O Governo de Minas Gerais assinou um termo de compromisso, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (SES) e com apoio da Advocacia-Geral do Estado (AGE-MG) e do Comitê Gestor Pró-Brumadinho, para construção de uma biofábrica e implementação do método Wolbachia, usado no controle de arboviroses nos municípios impactados pelo rompimento da barragem em Brumadinho, em janeiro de 2019.
O empreendimento prevê recursos do Termo de Medidas de Reparação pelos danos ambientais e sociais decorrentes do rompimento da estrutura da Vale, considerado o maior acordo homologado judicialmente no Brasil, em 4 de fevereiro de 2021, e assinado entre o Governo de Minas, a mineradora, a AGE-MG, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública de Minas Gerais.
O acordo foi efetivado nos autos da ação civil pública (5010709.36.2019.8.13.0024) proposta pela Advocacia-Geral do Estado poucas horas após o rompimento da barragem da mineradora.
A biofábrica será construída em Belo Horizonte. A obra irá durar 15 meses, a partir da liberação do terreno cedido pelo Estado, e tem custo estimado inicialmente em R$ 10,7 milhões. Já a implementação do projeto Wolbachia terá aporte da ordem de R$ 57,1 milhões, recurso originado do termo de medidas de reparação.
A biofábrica irá produzir mosquitos com Wolbachia (bactéria), que serão soltos em ambiente para se reproduzirem com os Aedes Aegypti locais. Cabe esclarecer que estes insetos não são transgênicos e não transmitem doenças. Ao contrário: ajudam no controle das arboviroses, doenças causadas por vírus transmitidos pelo Aedes Aegypti. Com o tempo, o percentual de mosquitos que carregam a Wolbachia aumenta, até que permaneça alta sem a necessidade de novas liberações.
O processo biológico se dará por meio do Método Wolbachia, implementado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em conjunto com o World Mosquito Program (WMP), em parceria com a SES-MG. Os mosquitos produzidos serão utilizados para controlar a ocorrência das arboviroses, como a dengue, zika e chikungunya nos municípios da bacia do rio Paraopeba atingidos pelo rompimento da barragem.
A SES-MG esclarece que o acompanhamento dos dados de notificação de dengue nesses municípios não demostra alterações atípicas na ocorrência dessas doenças. O método, como ressalta a subsecretária de Vigilância em Saúde, Janaína Passos, vem mais como uma estratégia contra as arboviroses.
“Com a implementação do projeto, esperamos que a incidência de dengue seja ainda mais reduzida em áreas que recebam a intervenção com os wolbitos. Em contrapartida, é primordial que a população faça a sua parte, eliminando criadouros de mosquitos no entorno das casas”, afirma.
Há a possibilidade, também, caso haja disponibilidade financeira dos valores disponibilizados, de o projeto ser ampliado para outros municípios mineiros. No entanto, segundo Janaína Passos, o que está previsto neste momento para essas outras cidades são ações de rotina de combate às arboviroses, como operações para conter a proliferação do mosquito e controle das doenças.
Fábrica
A biofábrica será construída pela mineradora Vale, com apoio técnico da SES-MG, World Mosquito Program e Fiocruz. A instituição será responsável por construir, equipar e mobiliar a estrutura, que será de propriedade do Estado de Minas Gerais. A operacionalização será conduzida pela Fiocruz e pelo WMP, que deverão realizar a implementação do projeto nos municípios impactados.
A expectativa é de que a liberação de mosquitos seja iniciada cerca de quatro meses após a entrega da biofábrica e que a implementação completa do Método Wolbachia seja concretizada em cinco anos.
Método Wolbachia
O Método Wolbachia, iniciativa do World Mosquito Program (WMP), conduzida no país pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), utiliza a bactéria Wolbachia para o controle de arboviroses, doenças que são transmitidas por mosquitos. Os insetos que nascem com o microrganismo são chamados wolbitos. Como já reforçado, eles não são transgênicos e não transmitem doenças.
A Wolbachia é um microrganismo intracelular presente em 60% dos insetos da natureza, mas que não estava presente no Aedes aegypti. Quando presente nestes mosquitos, impede que os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela se desenvolvam dentro do mosquito, contribuindo para redução destas doenças.
O método tem eficácia comprovada. “Estudo realizado na Indonésia apontou redução de 77% dos casos de Dengue nas áreas que receberam os mosquitos com Wolbachia. No Brasil, dados preliminares apontam redução de até 77% de casos de Dengue e 60% dos casos de Chikungunya em Niterói, onde o método é implementado desde 2015”, afirma o pesquisador da Fiocruz e responsável pelo método no Brasil, Luciano Moreira.
Este método de controle das arboviroses foi desenvolvido na Austrália pelo World Mosquito Program e atualmente atua em 11 países e mais de 20 cidades. No Brasil, a iniciativa é conduzida pela Fiocruz, com financiamento do Ministério da Saúde, e atualmente está sendo implementada no Rio de Janeiro (RJ), Niterói (RJ), Belo Horizonte (MG), Petrolina (PE) e Campo Grande (MS).
* Fonte: SES-MG.
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